meu querido
h.adams, por onde anda você? depois da briga que tivemos na semana passada você
simplesmente sumiu de vista. não me ama mais? espero que me perdoe. quanto a
você, está perdoado. não quero ficar aqui discutindo por bobagens. de séria já
basta a doença da sua mãe que está me preocupando deveras. espero que tenha melhorado.
me mande notícias. por aqui tudo bem. preciso te contar uma história. ando tão
distraída depois do que aconteceu...vamos lá:
você lembra da katarina? sobrinha da dona alice, vizinha aqui do lado?
ah meu amor, essa menina ainda vai me enlouquecer. estava eu outro dia na
estrada que leva para a floresta aqui atrás de casa quando de longe vi um casal
vindo em minha direção. vinham rindo, de mãos dadas, meio que brincando um com
o outro. jovens e obviamente apaixonados. andavam em zigue-zague, se beijando e
se abraçando. fui andando na intenção de passar reto por eles, para não atrapalhar. fingi
que não os vi mas a danadinha da katarina me reconheceu. pulou na minha frente.
– oi madame.
– oi, disse
eu me recuperando do susto. sorri para ela e fiz um gesto com a cabeça para o
rapaz que a acompanhava. ela me respondeu passando a mão no meu ombro .
sorrindo de volta. ele retribuiu com o mesmo gesto com a cabeça e abriu um
sorriso contagiante. olhou para frente serrando os olhos para impedir que a luz
do sol o cegasse. era fim de tarde, aquela luminosidade meio sépia tomava conta
dos campos. passou a língua nos lábios e eu fiquei congelada diante da beleza
daqueles dois. katarina percebeu que eu havia ficado meio abalada.
-o que foi?
provocou fingindo curiosidade.
–nada,
respondi nervosa. eu, nervosa, a essa altura do campeonato!
–hum, tava
pensando aqui, dizia ela mexendo no cabelo, a senhora não quer ir beber alguma
coisa com a gente hoje à noite não? ah, este é o filipe, apresentou apontando
para o namorado.
–com vocês?
claro. onde? oi filipe.
–hummm,
vamos fazer um pic nic para ver as
estrelas lá na clareira, cada um leva um vinho.
achei aquilo
tudo muito engraçado. pic nic na
clareira da floresta, à noite, com esses dois, não sei não, pensei. mas uma
vontade maior do que eu respondeu por mim:
–tá bom,
levo o vinho.
–ah, leva
bastante, advertiu katarina, e me deu uma piscadela marota.
fui para casa achando tudo muito diferente.
senti uma excitação que há muito não sentia. estava ansiosa para que a noite chegasse logo. e
chegou. tomei um banho demorado, arrumei o cabelo, peguei minha pequena cesta
de pic nic e fui em direção a clareira. você sabe que
aquele caminho eu sei de olhos fechados, né? desde quando? desde sempre.
frequento aquele lugar desde menina. é só seguir reto do portão da minha casa,
andar uns 500 metros mata a dentro, seguir até o pinheiro gigante,
dobrar a direita, andar mais um pouquinho e pronto. quem chega lá da de cara com um enorme vão
entre aquelas árvores. o silêncio impera. prevenida, levei lampião para
nos iluminar mas a lua estava tão cheia, gorda, brilhante que não foi
necessário. os dois levaram um lençol que fez às vezes de toalha no chão.
tínhamos vinho, velas, estrelas, uma cesta de queijos e pão. começamos a
conversa animadamente. filipe era metido a poeta e nos presenteou com sua
declamação. sentou em um tronco que estava ao nosso lado. eu e katarina
sentamos na toalha. aos poucos o vinho foi fazendo efeito. estávamos todos já
meio embriagados. katarina e filipe se
levantaram e começaram a dançar a música que eles sussurravam e imaginavam.
eram movimentos leves, sensuais. olhei os dois dançando debaixo
daquela lua e meus pensamentos foram longe. fechei os olhos e me deixei
envolver pela música imaginária. percebi que o som silenciou, e na verdade eu só
escutava os bichos e mistérios da floresta. abri os olhos e katarina estava
sentado ao meu lado.
-quer
dançar? perguntou.
-não. estou
bem. adorei ver vocês dançando. vão lá, dancem mais para mim. e os dois
voltaram a se entrelaçar naqueles passos particularmente languidos, sedutores. o vinho da
minha taça acabou, resolvi encostar a cabeça no troco que estava atrás de mim.
imediatamente katarina começou a rir e veio sentar comigo. sentou encostada no
tronco. acabei deitando a cabeça nas pernas cruzadas dela. filipe voltou para seu lugar e começou
novamente a declamar poesia. katarina mexia nos meus cabelos. fazia um carinho
tão especial que a deixei fazer o cafuné. suas mãos desceram para minha testa,
passaram pelo meu nariz, meu queixo. abri os olhos. ela me olhava e sorria. eu
a via quase de cabeça pra baixo. nessa hora katarina foi-se abaixando e beijou
minha boca. foi um beijo suave, quase não encostou os lábios. fiquei sem ação.
tentei levantar, mas ela me segurou e novamente me beijou. me entreguei e a
beijei de volta. suavemente. aos poucos os beijos foram ficando mais demorados.
eu sai do colo dela e sentei. ela me puxou para mais perto e novamente beijou
minha boca. me rendi. nossas línguas foram se reconhecendo, se procurando, se
encontrando. estávamos abraçadas e nossos beijos mais e mais profundos. as mãos
de katarina percorreram meu corpo. senti um arrepio quando ela passou a mão
pelos meus seios. eu já estava quase sem fôlego. parei e olhei para ela que
havia deixado todo o batom na minha boca. já estávamos
despenteadas. meu olhar desviou e caiu sobre filipe, que nos observava. ainda
segurava a taça de vinho e parecia bastante divertido. sorriu em minha direção.
fiquei sem graça, tímida. katarina segurou meu queixo e chamou minha atenção
para ela e novamente me beijou. não ouvi o momento em que filipe levantou e
andou até nós. ao abrir novamente os olhos ele estava lá, em pé, na minha
frente. esticou a mão e me puxou para ele. fiquei diante dele num instante. ele
segurou meu rosto, arrumou o cabelo que insistia em cair na minha cara e me
olhou profundamente. me beijou. enfiou a língua dele na minha boca e eu quase
desfaleci. estava tremendo
