quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

o estranho casal de três pessoas

 meu querido h. adams, recebi suas últimas notícias e confesso que fiquei  preocupada com elas. como assim “necessário refazer o negócio das hipotecas em londres” ?  está tudo bem? me deixe mais tranquila, por favor. pelas terras de cá, tudo como esperado. andei vendendo umas obras de arte e comprando outras. faz um bem danado dar uma renovada na casa. dá vida nova à alma. meu querido, esta tarde recebi uma notícia triste. você lembra da época do john e do davi? hoje recebi a notícia de que o davi se foi. morreu depois de uma longa e dolorosa luta contra uma doença maldita. que vá em paz. lembro como se fosse ontem a delícia que foi namorar aqueles dois.
no primeiro dia de carnaval daquele ano eu decidi não usar máscaras nem me embalar na folia das ruas. fiquei quieta apenas observando o cortejo feliz que desfilava pela cidade. num canto, sozinha, sorria para os foliões que se divertiam em fantasias e gracejos. foi quando meu olhar cruzou o de davi. que homem charmoso. alto, moreno, com uns olhinhos puxados que quase fechavam ao sorrir. ele me mandou seu melhor sorriso e eu retribui. com um copo de bebida na mão fez um brinde no ar e seguiu seu caminho atrás da marchinha que animava a festa. a rua estava lotada. era gente por todos os lados. por trás de mim veio ele, o john, tropeçando e sujando minha roupa. derramou o copo de bebida todo em cima de mim. fez uma cara de espanto, pediu tantas desculpas que não consegui me aborrecer com ele. se apresentou timidamente. era loiro, de uns olhos claros profundos e boca larga. lindo.  conversamos um pouco entre gritos já que a música estava alta. ficamos ali trocando sorrisos e fui logo para casa trocar o vestido sujo. fiquei por lá, estava cansada e sem espírito carnavalesco. quando já me preparava para deitar ouvi alguém batendo na janela.
– quem está ai? perguntei já com um leve medo na barriga. em noite de folia sabe-se lá o estado alcoólico dos foliões, não é mesmo?
– sou eu, o john.
nem acreditei que aquele maluquinho tinha me seguido até em casa. abri a janela sem me preocupar com a pouca roupa que usava.
– seu maluco, o que você faz aqui? como veio parar aqui?
– eu te segui. quer um gole? me perguntou ele levantando um copo na minha direção com a cara mais safada do mundo.
– não john, está tarde, vou dormir.
– não, por favor, bebe um golinho só. é conhaque.
achei que um gole de conhaque não faria mal algum antes de deitar. aceitei a oferta. desceu rasgando minha garganta. e eu ali, seminua na janela começando a ficar com frio.
– john ou você vai embora ou entra pela porta da frente. está ficando frio e eu realmente estou com sono.
– abre a porta pra mim?
fiz que sim com um sinal de cabeça. no caminho consegui apanhar um casaco velho que estava jogado por cima da cama. abri a porta pra ele. john entrou decidido e foi diretamente a mim. me segurou pela cintura e me deu um beijo que me tirou o fôlego.  tentei me desvencilhar dele, mas ele parecia um polvo com mil tentáculos.
– ei, para com isso, eu realmente quero dormir e você já passou da hora, falei sem convencer muito.
john não foi embora. mais uma vez me beijou. eu cedi. o corpo dele me envolvia, me agarrava inteira, me perdi nos braços dele. ficamos na sala nos beijando e nos tocando como dois adolescentes recém descobrindo o amor. eu estava perdendo o ar e ele empolgado me lambia os lábios, a cara, o pescoço.
pedi, quase sem força, para ele parar com aquilo. e ele parou.
– vou parar. se eu continuar vou acabar estuprando você, me disse ele sorrindo. vou embora. amanhã nos falamos. e partiu.
fiquei sozinha no meio da sala sem acreditar no que tinha acontecido. eu adorei. fui dormir pensando nele. do nada meus pensamentos me levaram até o sorriso de davi. adormeci e sonhei com os dois.
no outro dia cedo fui ao mercado para reabastecer a dispensa de vinhos e frutas. quem estava lá parado, de óculos escuros e bastante alinhado? davi.
também comprava frutas.
– bom dia madame. me disse ele amavelmente.
– bom dia. sorri.
– me permite? e foi logo me ajudando a passar as mercadorias no caixa. fez questão de pagar a minha conta e a dele. insistiu a ponto de eu aceitar para não deixá-lo sem graça.
conversamos algumas amenidades e ele se despediu avisando que iria trabalhar aquele dia até mais tarde, mesmo tendo uma pontinha de ressaca da noite anterior. rimos da situação, e ele então me convidou para ir encontrá-lo para beber o vinho que “tínhamos” comprado. aceitei.
– hoje, oito horas.
– estarei lá, respondi.
e sim, fui encontrar davi na casa dele. não estávamos sozinhos ele morava com a mãe e a irmã mais jovem, julia. fui muito bem recebida. a mãe está doente e se recolheu depois de me dar boa noite. falou com muita doçura com o filho e foi dormir. a irmã mais nova nos fez companhia e o jantar estava bastante gostoso. ela me contou que fez a torta de frango mas que a especialidade dela era mesmo a sobremesa. tinha razão. serviu uma torta de morango de tirar o chapéu. eu e  davi não parávamos de sorrir e trocar olhares cúmplices e comprometedores. tentei ajudar julia mas ela fez questão de retirar a louça e ficar na cozinha, nos dando tempo para uma conversa a sós na sala de estar.
– jantar maravilhoso, elogiei.
– maravilhosa é você.
– davi para com isso, sua irmã e sua mãe são uns amores, podem não gostar dessa ousadia, repreendi ele.
– que ousadia? você ainda não viu nada. vem cá.
fui. ele me beijou demoradamente. senti sua respiração mudar enquanto me beijava suavemente. me olhou nos olhos e disse quase em sussurro:
- você é linda. te quero para mim.
eu retribui o beijo. neste momento julia entrou com a bandeja do café, deu um gritinho espevitado e já dava meia volta quando paramos de nos beijar e rimos com ela. ficamos os três tomando café e conversando sobre a vida. estava ficando tarde. davi insistiu que ouvíssemos julia ao piano. eu já estava meio alta de tanto vinho, mas fiquei. foi deslumbrante. o tempo estava passando rapidamente.
– davi, preciso ir. já está tarde.
– eu te levo.
pegou o casaco e fomos andando de mãos dadas até minha casa. estava uma noite linda de lua cheia.
nos despedimos na porta com mais um beijo.
– vou lembrar desta noite para sempre, me disse ele.
fui dormir com a promessa de encontrá-lo no dia seguinte.
e lá estou novamente de camisola, me preparando para dormir, quando ouço a batidinha na janela. será que davi teve a mesma ideia de john?
não. era john mesmo, em pessoa, batendo novamente.
– namorado? perguntou ele.
– te interessa? respondi.
– claro que sim. quero você pra mim. como vamos fazer?
– john a gente nem se conhece, vai embora, não me deixe confusa.
ele então pulou a janela do quarto. não se deu o trabalho de ir até a porta da frente. e veio novamente na minha direção com aqueles olhos brilhantes e azuis. me segurou pela cintura, me colou ao corpo dele. ele estava quente e suado. e cheiroso. me beijou a boca. a orelha, o pescoço. e eu me derretia nos braços dele. fomos nos agarrando até a cama. ele me jogou nela, tentei levantar mas ele me segurou.
– hoje eu não vou embora, disse ele já em cima de mim. gemia no meu ouvido.
eu queria aquele homem loucamente. ele me beijava, mordia, arranhava. não esperou eu tirar a camisola, foi logo rasgando minha roupa. a calcinha ele tirou num puxão só, e assim com fome, com violência, abriu minhas pernas e enfiou seu pau. foi intenso, rápido e forte. eu queria mais e mais. me agarrava a ele com as unhas. ele segurava meu rosto e me beijava, puxava meu cabelo, se contorcia dentro de mim como um bicho. naquela noite ele dormiu comigo. eu acordei com o corpo destruído, ainda cheio de marcas da noite anterior. ele levantou antes, tomou um banho e me deixou uma xícara de café em cima do criado mudo. um bilhetinho dizia que iria voltar.  “com amor, john” .
mal dei um jeito nos cabelos bateu a minha porta davi. nas mãos uma torta de morango. julia insistiu, contou ele.
– mas que rápida, como ela conseguiu fazer uma torta de ontem pra hoje? perguntei meio sem graça.
– rápida nada. já estava pronta desde ontem. ela ficou com vergonha de oferecer o mimo. ai eu disse que você iria gostar e enfim, aqui estou eu de garoto de recados.
– entra davi, não fique ai na porta, por favor.
– não posso. estou atrasado. mas posso voltar mais tarde, se você não se importar.
– claro, disse eu. eu te espero para comermos juntos esses morangos.
ele sorriu, me beijou a boca, arrumou uns fios do meu cabelo e saiu.
e eu passei o dia tentando disfarçar as marcas da noite com john. tinha arranhões corpo, as costas acabadas. 
a noite chegou. davi chegou com ela. trazia flores, rosas vermelhas.
– minhas preferidas, disse eu. enquanto eu colocava as flores no vaso davi colocava uma música. nos abraçamos e começamos a dançar. a música era suave, não exatamente para uma dança, mas nos deixamos embalar. ele me beijou novamente, beijou meu pescoço, segurava minha cabeça enquanto sua língua percorria minha boca, meu colo. davi tinha um cheiro inebriante.  eu me entreguei àquelas carícias. nos abraçamos e nos tocamos, fomos andando em direção ao sofá. ali as caricias foram ficando mais fortes, mais ousadas. eu já estava quase nua e sentia davi pulsando em cima de mim. ele me virou de quatro e assim me possuiu. entrou em mim com desejo, com tesão. e eu me entreguei a ele. ainda sentia as dores de john, mas me deleitei com as dores que davi me dava. ele me puxava pra ele, me queria. gozou em mim gemendo alto. ficamos por ali. entregues um ao outro. davi adormeceu no sofá. deixei ele em paz. e pra meu desespero ouvi novamente a batidinha na janela do quarto. john!
fui correndo abrir.
– o que você está fazendo aqui? perguntei assustada.
– ué, eu avisei que vinha, me respondeu ele já entrando pela janela. sentiu minha falta?
– john, eu preciso falar com você. eu estou confusa. conheci outro homem, não sei o que estou sentindo. eu gosto de você e gosto dele. mas eu não sei o que fazer. eu tentava me explicar entre frases curtas e rápidas.
– ei, calma. respira, me disse ele. você não precisa escolher nada, decidir nada. deixa as coisas acontecerem.
– você não está entendendo. ele está aqui.
– então deixa eu conhecer, falou john já saindo do quarto em direção a sala.
– não, gritei. pulei em cima dele, mas john foi mais rápido e encontrou davi dormindo nu no sofá.
– sua safadinha, me disse john com um sorrisinho de lado.
– para com isso. ele vai acordar. john vai embora. por favor. eu estava em pânico e tentava sussurrar.
john ria e voltou para o quarto. me puxou para ele e beijou minha boca.
– você é minha, dá um jeito de despachar o bonitão.
– tá bom, mas vai embora, por favor, respondi.
ele saiu pela janela mesmo. contrariado. davi acordou e foi até meu quarto, quase flagrou john pulando a janela.
– desculpe, peguei no sono, me disse davi.
– sem problema.
– vou embora. amanhã tenho trabalho e vou ao último baile da temporada. você me acompanha  nessa festa?
– claro, respondi sem pensar.
davi se trocou, me beijou e foi embora.
no outro dia acordei cedo, com as lembranças boas da noite anterior.
“hoje tem festa”, lembrei, mas eu estava confusa e sem saber o que fazer. davi ou john? eu estava apaixonada pelos dois...
a noite chegou e davi me pegou para irmos ao baile. usava uma linda máscara negra , combinando com a minha. o salão estava lotado. a música embalava os casais. começamos a beber champanhe e fomos para o meio do salão de baile. a certa altura eu já estava meio zonza, davi me abraçou pela cintura e por trás de mim ganhei um abraço, senti uma mão que também me segurava. olhei para trás e vi, john, também mascarado. eu fiquei ali, entre os dois.
davi beijou minha boca. john beijou minha nuca. ficamos os três abraçados indiferentes ao resto dos convidados. john me virou em direção a ele e beijou minha boca. davi continuou me beijando. revezei os beijos dos dois. eles pareciam não se importar um com o outro. os dois me queriam para eles. saímos do salão. eu estava suando. nós três riamos enquanto andávamos pelos corredores. encontramos uma sala mais reservada. entramos.
– shhhh, silêncio, me diziam. e eu obedeci. mas eles não paravam de me beijar, de me tocar. 
era davi que comandava nossos passos. me segurou pela mão e me levou em direção a janela enquanto john esperava para ser convidado. davi apenas olhou para ele como autorizando pegar minha outra mão. próximo à uma estante ao lado da janela davi tirou a máscara, ficou na minha frente e tirou as alças do meu vestido. fiquei com os seios à mostra. john me olhava. começou a me tocar. davi foi para trás de mim e beijou meu pescoço, enquanto john mamava nos meus peitos me matando de prazer. os dois passaram a dividir meu corpo. me beijaram, me lamberam, me sentiram. me encostaram na parede, de pernas abertas e  se enfiavam em mim revezando os prazeres, ampliando meu desejo. eu senti cada uma daquelas quatro mãos, dois paus, duas línguas, quatro pernas. nunca antes havia sentido tanto tesão. às vezes um parava para ficar olhando ai voltava a me dividir. nos beijamos os três, três bocas que se procuravam. eu ajoelhei e lambi e chupei os dois. senti um de cada vez na minha boca. os dois me deram o gozo para beber. eles não se tocaram, não naquela noite. e eu gozei farta de tanto tesão. 
eles me ajudaram a vestir novamente o vestido. colocamos nossas máscaras e voltamos para o salão de baile. não tiramos o sorriso do rosto, nem nos desgrudamos por um bom tempo depois disso. davi deixou a mãe aos cuidados da irmã julia e mudou para minha casa. john foi morar conosco uma semana depois. dormíamos os três na cama que ficou apertada para tantas aventuras e passamos a ser conhecidos oficialmente como o estranho casal de três pessoas. tenho tantas lembranças...aos poucos vou relembrando, sim, meu querido? agora vou apagar essas luzes, a noite já vai alta e eu preciso estar bem amanhã.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

domingo, 6 de janeiro de 2013

a história da rosa vermelha


meu querido h.adams, não estou bem. quanto tempo você ainda vai ficar longe de mim? a saudade me consome. estou me repetindo mas é a pura verdade. nesses dias sem você andei arrumando meus livros, e entre os mais surrados, você nem acredita, encontrei uma rosa vermelha amassada.  demorei a lembrar de onde veio, mas logo veio a recordação: andré.  como pude esquecer mesmo que por instantes? já contei essa história, mas me faz bem contar novamente...fazia tempo que ele não visitava o pai, o dr. fernandes. estudava na frança e pouco vinha para as bandas de cá.  quando chegou,  a cidade inteira ficou sabendo. o pai, rico que só, fez festa três dias seguidos. naquela época as festas eram assim, duravam dias. e a fazenda do dr. fernandes ficou lotada de convidados vindos de todos os cantos do país. e eu estava lá. conhecia andré desde os tempos da escola. havíamos estudado no mesmo colégio municipal. quando cheguei na tal festa, tudo estava bem servido. bebida à vontade, comida esmerada e farta. andré era encantadoramente tímido. tinha lindos olhos escuros, cabelos bem cuidados. seu sorriso era honesto, expansivo e charmoso. bem vestido, exalava o melhor da perfumaria francesa. veio de paris com novidades e dava atenção a todos. lá no fundo, prestando bem atenção, andré trazia uma certa tristeza no olhar que me deixava intrigada. como se ocupava conversando com todos, não tive muita oportunidade para me aproximar. desisti de desvendar o misterioso olhar daquele homem e fui tomar um pouco de ar fresco na sacada da mansão. o pé direito era maior que da catedral da cidade. a música ia até lá fora. a lua iluminava o jardim imenso da casa. parecia um conto de fadas. enquanto eu me encostava numa pilastra para descansar, minha taça se esvaziava aos poucos. quando estava por acabar, fui surpreendida por andré. trazia duas taças.
– para mim? perguntei.
– sim. estou te observando ai sozinha, vi seu champanhe acabar e ...estou aqui. rimos os dois. começamos a lembrar de quando estudávamos juntos na velha escolinha, ele lembrou que desenhava nossos nomes no quadro negro.
– ah andré, como nos divertíamos, não é mesmo?
– e agora, você não se diverte? me perguntou com um sorriso nos lábios.
– sim, bastante, mas não daquela maneira. não tínhamos medo de nada, nem de ninguém.
– eu continuo não tendo medo de nada, me disse ele.
– duvido, provoquei.
– é sim, vou provar pra você.
– não, deixa de ser bobo. eu acredito, disse eu já me sentindo embriagada.
– ainda provo pra você e riu mais um pouco comigo.
ficamos assim nos encarando e dado risadas bobas até que uma tia dele nos interrompeu pedindo para ele dar atenção aos outros convidados que já estavam sentindo sua falta. tenho certeza que ela se referia a montanha de mulheres enamoradas pelo anfitrião.  
– vai lá, herói, destemido. vá salvar sua tia e as donzelas desamparadas.
andré fez uma careta.
– vou sim minha doce senhora, mas me aguarde, disse ele brincando.
nos separamos ali naquela noite. ainda pude ver as tais donzelas desamparadas se derretendo na simples presença de andré. fui embora ainda cedo. no outro dia pela manhã batia a minha porta o motorista de andré.
– seu andré pediu para levar a senhora até o local onde ele está. e pediu pra senhora usar isso.
me entregou uma venda para colocar nos olhos.
– eu não vou usar isso, protestei.
– seu andré disse que se a senhora não colocar a venda não é pra levar a senhora.
me resignei e coloquei a tal venda. no começo ainda tentei decorar o caminho mas logo desisti. paramos num terreno firme. comecei a andar  desajeita e o motorista foi me guiando até eu ouvir a voz de andré.
– bem-vinda. me dê sua mão.
estiquei os braços e ele me segurou. me levou adiante por um caminho de madeira. paramos e ele finalmente tirou minha venda. estávamos na marina. em frente ao barco da família dele.
– hoje vou lhe mostrar que não tenho medo de nada, riu andré e me puxou para dentro do barco.
vestia uma blusa branca, imitava a pose de comandante, com direito a chapéu e tudo. eu estava com um vestido que voava ao vento. ele colocou velocidade no barco e fomos assim para longe da civilização. estávamos bem longe da terra e do barulho dela. ao nosso redor um céu azul ensolarado, pássaros e as ondas que batiam no casco sem muito alarde. no balde de gelo champanhe.
– eu sei que você gosta, comentou ele me servido uma taça.

– sem exagero andré, nem me recuperei da festa de ontem, comentei.
ficamos lá o dia inteiro. andré levou doces, frutas, me serviu um almoço que ele mesmo preparou. a mesa balançava com o mar e os copos também. mas estava tudo tão perfeito que nada atrapalhou. andré me disse que pularia dali em meio a tubarões. eu dei um gritinho de pânico. ele começou a rir e me garantiu que não tinha medo. eu disse a ele que já acreditava que ele não tinha medo de nada. não adiantou, andré tirou a roupa e pulou na água. disse que a água estava refrescante. eu não pude deixar de olhar para os braços fortes dele. a água deixava seu rosto ainda mais delicado, os cabelos molhados mal penteados deixaram andre mais sexy que nunca. eu não mergulhei, fiquei apenas sorrindo e meio sem graça. a noite chegou e ainda estávamos por lá. as estrelas foram tomando conta do céu, uma a uma brilhando cada vez mais forte. fiquei com frio, andre me levou um casaco e pela primeira vez me abraçou.
– eu não quis provar que não tinha medo de nada ao pular na água.
– não?
– não. agora é que eu vou te mostrar...e me deu um beijo na boca.
eu fiquei sem ar, sem resposta, sem ação. me deixei levar por aquele beijo cheio de paixão e desejo. a lua novamente veio espiar nós dois. e nos beijávamos no balanço do barco.
– roubar um beijo seu, essa é a maior das coragens, me disse ele sussurrando ao meu ouvido.
– você já tinha tudo planejado! comentei com uma falsa indignação. ele riu e disse que sim e acrescentou:
– desde o primeiro momento que te vi eu quis um beijo seu.
eu me derreti nos braços dele. e aqueles olhos tristes ainda tinham tanto para me dizer. deixei ele me levar nos braços até a beirada do barco, um vento soprava nossos cabelos. ele me abraçou e continuamos a nos beijar. os beijos foram descendo meu pescoço, meus ombros. estávamos ancorados e nossos corpos se mexiam junto com o vai-e-vem das ondas. andre tirou meu vestido devagar, olhando nos meus olhos. fiquei completamente a mercê dele. ele beijou e tocou meu corpo inteiro. me virou de costas pra ele. eu via ao longe no horizonte as luzes da cidade. ele se abraçava em mim com desejo. eu me contorcia de prazer. estava completamente nua, sentia as mãos dele em toda minha pele, me arrepiava de desejo.  andré me possuiu em pé naquela beirada do barco. com paixão. me entreguei a ele ali, sob a luz da lua e das estrelas. ele entrou em mim como se nunca mais fosse sair.  eu não queria que aquele momento acabasse jamais. eu o queria para sempre assim. andré gemia e eu mais ainda. estavamos loucos de tesão. uma chuva inesperada começou e mesmo assim insistimos em continuar nos amando. nossos corpos desfaleceram de tanto gozar. e a chuva ficou ainda mais forte, nos obrigou a procurar abrigo. riamos juntos na cabine do barco. ele me encarava apaixonadamente. beijou minha boca com vontade de mais. fizemos amor novamente naquela cabine. andré suava em cima de mim. eu senti cada parte do corpo dele me desejando. me entreguei novamente sem pudor, sem medo. gritava de prazer. ele puxava meus cabelos eu o mordia. esquecemos do tempo em nossa volta. a chuva piorou e o barco começou a balançar acima do que seria seguro. voltamos para o cais. andré me levou de volta para casa e se despediu com um beijo quente. fui dormir pensando naqueles momentos de puro prazer. ainda sentia andré dentro de mim, me enlouquecendo. suas mãos tinham me explorado e me deixaram de perna bamba. mal consegui pegar no sono. no outro dia nem esperava vê-lo, ele já estava com a viagem de volta a frança marcada. mas antes do almoço chegou por meio de um mensageiro o convite para jantar novamente na mansão da fazenda. naquela noite. claro que fiquei nervosa, mas aprontei meu melhor vestido e fui. andré me recebeu como convidada de honra. a mesa enorme da sala de jantar era puro luxo. os empregados impecavelmente vestidos serviam os convidados na melhor louça da mansão. o pai de andré fez as honras da casa e nos servia um vinho da melhor safra francesa. eu não entendia sobre vinhos, mas ele fez questão de dar uma aula a todos os convidados. a noite transcorreu assim, leve, com boas risadas, bebida e conversas sobre o mundo e suas aventuras. depois do jantar, enquanto todos se deliciavam com um conhaque ou um licor, andré me chamou para conhecer as obras de arte da casa. claro que não vimos nem um quadro, fomos direto para o quarto dele como dois adolescentes. nos beijávamos e nos tocávamos famintos, loucos de paixão. no quarto, fui logo tirando as roupas dele, não tínhamos muito tempo. andré estava explodindo de tesão. eu o engoli com fome. ele se entregou a mim, e segurava minha cabeça enquanto eu o matava de prazer. ele gozou na minha boca com um longo gemido.  logo ouvimos passos de alguém vindo pelo corredor.
– andré? andré, seu pai está chamando, avisou a empregada.
rapidamente andré vestiu as calças, eu arrumei o cabelo e fomos atender ao chamado do dr. fernandes. quem estava por lá logo percebeu que nossa ausência estava justificada. não conseguíamos esconder nosso desejo.  trocávamos olhares e quase dava para sentir a eletricidade dos nossos corpos no ar. andré foi ajudar o pai a se recolher, os convidados ficaram ouvindo música na sala principal e andré assumiu o papel de anfitrião da noite. fui embora sem que ele percebesse. não queria despedidas. eu sabia que ele estava indo embora pra frança e sabe-se lá que tempo teríamos para nós novamente. mas no outro dia lá estava ele na minha porta. aqueles olhos tristes e aquele sorriso encantador. trazia uma rosa vermelha e uma linda caixa de presente. dentro o mais belo par de brincos cravejados de rubis.
– minha querida, não quero ir, quase implorava com os olhos que pareciam cheios de lágrimas.
– mas você tem. precisa terminar seu doutorado e tudo vai ficar mais fácil para nós, argumentei.
me beijou como se fosse a última vez. beijou meus olhos. me entregou a rosa e a caixa e foi embora. e durante 136 dias todos os dias eu recebi em casa uma rosa e uma pequena joia com um rubi. até que pude ir ao encontro dele na frança. mas ai já é outra história. a da rosa foi essa. guardei entre os livros para não esquecer jamais daqueles olhos tristes do homem que teve medo de me roubar um beijo.