domingo, 6 de janeiro de 2013

a história da rosa vermelha


meu querido h.adams, não estou bem. quanto tempo você ainda vai ficar longe de mim? a saudade me consome. estou me repetindo mas é a pura verdade. nesses dias sem você andei arrumando meus livros, e entre os mais surrados, você nem acredita, encontrei uma rosa vermelha amassada.  demorei a lembrar de onde veio, mas logo veio a recordação: andré.  como pude esquecer mesmo que por instantes? já contei essa história, mas me faz bem contar novamente...fazia tempo que ele não visitava o pai, o dr. fernandes. estudava na frança e pouco vinha para as bandas de cá.  quando chegou,  a cidade inteira ficou sabendo. o pai, rico que só, fez festa três dias seguidos. naquela época as festas eram assim, duravam dias. e a fazenda do dr. fernandes ficou lotada de convidados vindos de todos os cantos do país. e eu estava lá. conhecia andré desde os tempos da escola. havíamos estudado no mesmo colégio municipal. quando cheguei na tal festa, tudo estava bem servido. bebida à vontade, comida esmerada e farta. andré era encantadoramente tímido. tinha lindos olhos escuros, cabelos bem cuidados. seu sorriso era honesto, expansivo e charmoso. bem vestido, exalava o melhor da perfumaria francesa. veio de paris com novidades e dava atenção a todos. lá no fundo, prestando bem atenção, andré trazia uma certa tristeza no olhar que me deixava intrigada. como se ocupava conversando com todos, não tive muita oportunidade para me aproximar. desisti de desvendar o misterioso olhar daquele homem e fui tomar um pouco de ar fresco na sacada da mansão. o pé direito era maior que da catedral da cidade. a música ia até lá fora. a lua iluminava o jardim imenso da casa. parecia um conto de fadas. enquanto eu me encostava numa pilastra para descansar, minha taça se esvaziava aos poucos. quando estava por acabar, fui surpreendida por andré. trazia duas taças.
– para mim? perguntei.
– sim. estou te observando ai sozinha, vi seu champanhe acabar e ...estou aqui. rimos os dois. começamos a lembrar de quando estudávamos juntos na velha escolinha, ele lembrou que desenhava nossos nomes no quadro negro.
– ah andré, como nos divertíamos, não é mesmo?
– e agora, você não se diverte? me perguntou com um sorriso nos lábios.
– sim, bastante, mas não daquela maneira. não tínhamos medo de nada, nem de ninguém.
– eu continuo não tendo medo de nada, me disse ele.
– duvido, provoquei.
– é sim, vou provar pra você.
– não, deixa de ser bobo. eu acredito, disse eu já me sentindo embriagada.
– ainda provo pra você e riu mais um pouco comigo.
ficamos assim nos encarando e dado risadas bobas até que uma tia dele nos interrompeu pedindo para ele dar atenção aos outros convidados que já estavam sentindo sua falta. tenho certeza que ela se referia a montanha de mulheres enamoradas pelo anfitrião.  
– vai lá, herói, destemido. vá salvar sua tia e as donzelas desamparadas.
andré fez uma careta.
– vou sim minha doce senhora, mas me aguarde, disse ele brincando.
nos separamos ali naquela noite. ainda pude ver as tais donzelas desamparadas se derretendo na simples presença de andré. fui embora ainda cedo. no outro dia pela manhã batia a minha porta o motorista de andré.
– seu andré pediu para levar a senhora até o local onde ele está. e pediu pra senhora usar isso.
me entregou uma venda para colocar nos olhos.
– eu não vou usar isso, protestei.
– seu andré disse que se a senhora não colocar a venda não é pra levar a senhora.
me resignei e coloquei a tal venda. no começo ainda tentei decorar o caminho mas logo desisti. paramos num terreno firme. comecei a andar  desajeita e o motorista foi me guiando até eu ouvir a voz de andré.
– bem-vinda. me dê sua mão.
estiquei os braços e ele me segurou. me levou adiante por um caminho de madeira. paramos e ele finalmente tirou minha venda. estávamos na marina. em frente ao barco da família dele.
– hoje vou lhe mostrar que não tenho medo de nada, riu andré e me puxou para dentro do barco.
vestia uma blusa branca, imitava a pose de comandante, com direito a chapéu e tudo. eu estava com um vestido que voava ao vento. ele colocou velocidade no barco e fomos assim para longe da civilização. estávamos bem longe da terra e do barulho dela. ao nosso redor um céu azul ensolarado, pássaros e as ondas que batiam no casco sem muito alarde. no balde de gelo champanhe.
– eu sei que você gosta, comentou ele me servido uma taça.

– sem exagero andré, nem me recuperei da festa de ontem, comentei.
ficamos lá o dia inteiro. andré levou doces, frutas, me serviu um almoço que ele mesmo preparou. a mesa balançava com o mar e os copos também. mas estava tudo tão perfeito que nada atrapalhou. andré me disse que pularia dali em meio a tubarões. eu dei um gritinho de pânico. ele começou a rir e me garantiu que não tinha medo. eu disse a ele que já acreditava que ele não tinha medo de nada. não adiantou, andré tirou a roupa e pulou na água. disse que a água estava refrescante. eu não pude deixar de olhar para os braços fortes dele. a água deixava seu rosto ainda mais delicado, os cabelos molhados mal penteados deixaram andre mais sexy que nunca. eu não mergulhei, fiquei apenas sorrindo e meio sem graça. a noite chegou e ainda estávamos por lá. as estrelas foram tomando conta do céu, uma a uma brilhando cada vez mais forte. fiquei com frio, andre me levou um casaco e pela primeira vez me abraçou.
– eu não quis provar que não tinha medo de nada ao pular na água.
– não?
– não. agora é que eu vou te mostrar...e me deu um beijo na boca.
eu fiquei sem ar, sem resposta, sem ação. me deixei levar por aquele beijo cheio de paixão e desejo. a lua novamente veio espiar nós dois. e nos beijávamos no balanço do barco.
– roubar um beijo seu, essa é a maior das coragens, me disse ele sussurrando ao meu ouvido.
– você já tinha tudo planejado! comentei com uma falsa indignação. ele riu e disse que sim e acrescentou:
– desde o primeiro momento que te vi eu quis um beijo seu.
eu me derreti nos braços dele. e aqueles olhos tristes ainda tinham tanto para me dizer. deixei ele me levar nos braços até a beirada do barco, um vento soprava nossos cabelos. ele me abraçou e continuamos a nos beijar. os beijos foram descendo meu pescoço, meus ombros. estávamos ancorados e nossos corpos se mexiam junto com o vai-e-vem das ondas. andre tirou meu vestido devagar, olhando nos meus olhos. fiquei completamente a mercê dele. ele beijou e tocou meu corpo inteiro. me virou de costas pra ele. eu via ao longe no horizonte as luzes da cidade. ele se abraçava em mim com desejo. eu me contorcia de prazer. estava completamente nua, sentia as mãos dele em toda minha pele, me arrepiava de desejo.  andré me possuiu em pé naquela beirada do barco. com paixão. me entreguei a ele ali, sob a luz da lua e das estrelas. ele entrou em mim como se nunca mais fosse sair.  eu não queria que aquele momento acabasse jamais. eu o queria para sempre assim. andré gemia e eu mais ainda. estavamos loucos de tesão. uma chuva inesperada começou e mesmo assim insistimos em continuar nos amando. nossos corpos desfaleceram de tanto gozar. e a chuva ficou ainda mais forte, nos obrigou a procurar abrigo. riamos juntos na cabine do barco. ele me encarava apaixonadamente. beijou minha boca com vontade de mais. fizemos amor novamente naquela cabine. andré suava em cima de mim. eu senti cada parte do corpo dele me desejando. me entreguei novamente sem pudor, sem medo. gritava de prazer. ele puxava meus cabelos eu o mordia. esquecemos do tempo em nossa volta. a chuva piorou e o barco começou a balançar acima do que seria seguro. voltamos para o cais. andré me levou de volta para casa e se despediu com um beijo quente. fui dormir pensando naqueles momentos de puro prazer. ainda sentia andré dentro de mim, me enlouquecendo. suas mãos tinham me explorado e me deixaram de perna bamba. mal consegui pegar no sono. no outro dia nem esperava vê-lo, ele já estava com a viagem de volta a frança marcada. mas antes do almoço chegou por meio de um mensageiro o convite para jantar novamente na mansão da fazenda. naquela noite. claro que fiquei nervosa, mas aprontei meu melhor vestido e fui. andré me recebeu como convidada de honra. a mesa enorme da sala de jantar era puro luxo. os empregados impecavelmente vestidos serviam os convidados na melhor louça da mansão. o pai de andré fez as honras da casa e nos servia um vinho da melhor safra francesa. eu não entendia sobre vinhos, mas ele fez questão de dar uma aula a todos os convidados. a noite transcorreu assim, leve, com boas risadas, bebida e conversas sobre o mundo e suas aventuras. depois do jantar, enquanto todos se deliciavam com um conhaque ou um licor, andré me chamou para conhecer as obras de arte da casa. claro que não vimos nem um quadro, fomos direto para o quarto dele como dois adolescentes. nos beijávamos e nos tocávamos famintos, loucos de paixão. no quarto, fui logo tirando as roupas dele, não tínhamos muito tempo. andré estava explodindo de tesão. eu o engoli com fome. ele se entregou a mim, e segurava minha cabeça enquanto eu o matava de prazer. ele gozou na minha boca com um longo gemido.  logo ouvimos passos de alguém vindo pelo corredor.
– andré? andré, seu pai está chamando, avisou a empregada.
rapidamente andré vestiu as calças, eu arrumei o cabelo e fomos atender ao chamado do dr. fernandes. quem estava por lá logo percebeu que nossa ausência estava justificada. não conseguíamos esconder nosso desejo.  trocávamos olhares e quase dava para sentir a eletricidade dos nossos corpos no ar. andré foi ajudar o pai a se recolher, os convidados ficaram ouvindo música na sala principal e andré assumiu o papel de anfitrião da noite. fui embora sem que ele percebesse. não queria despedidas. eu sabia que ele estava indo embora pra frança e sabe-se lá que tempo teríamos para nós novamente. mas no outro dia lá estava ele na minha porta. aqueles olhos tristes e aquele sorriso encantador. trazia uma rosa vermelha e uma linda caixa de presente. dentro o mais belo par de brincos cravejados de rubis.
– minha querida, não quero ir, quase implorava com os olhos que pareciam cheios de lágrimas.
– mas você tem. precisa terminar seu doutorado e tudo vai ficar mais fácil para nós, argumentei.
me beijou como se fosse a última vez. beijou meus olhos. me entregou a rosa e a caixa e foi embora. e durante 136 dias todos os dias eu recebi em casa uma rosa e uma pequena joia com um rubi. até que pude ir ao encontro dele na frança. mas ai já é outra história. a da rosa foi essa. guardei entre os livros para não esquecer jamais daqueles olhos tristes do homem que teve medo de me roubar um beijo.

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