meu querido
h.adams, não estou bem. quanto tempo você ainda vai ficar longe de mim? a
saudade me consome. estou me repetindo mas é a pura verdade. nesses dias sem
você andei arrumando meus livros, e entre os mais surrados, você nem acredita,
encontrei uma rosa vermelha amassada. demorei
a lembrar de onde veio, mas logo veio a recordação: andré. como pude esquecer mesmo que por instantes? já
contei essa história, mas me faz bem contar novamente...fazia tempo que ele não
visitava o pai, o dr. fernandes. estudava na frança e pouco vinha para as
bandas de cá. quando chegou, a cidade inteira ficou sabendo. o pai, rico
que só, fez festa três dias seguidos. naquela época as festas eram assim,
duravam dias. e a fazenda do dr. fernandes ficou lotada de convidados vindos de
todos os cantos do país. e eu estava lá. conhecia andré desde os tempos da
escola. havíamos estudado no mesmo colégio municipal. quando cheguei na tal
festa, tudo estava bem servido. bebida à vontade, comida esmerada e farta.
andré era encantadoramente tímido. tinha lindos olhos escuros, cabelos bem
cuidados. seu sorriso era honesto, expansivo e charmoso. bem vestido, exalava o
melhor da perfumaria francesa. veio de paris com novidades e dava atenção a
todos. lá no fundo, prestando bem atenção, andré trazia uma certa tristeza no
olhar que me deixava intrigada. como se ocupava conversando com todos, não tive
muita oportunidade para me aproximar. desisti de desvendar o misterioso olhar
daquele homem e fui tomar um pouco de ar fresco na sacada da mansão. o pé
direito era maior que da catedral da cidade. a música ia até lá fora. a lua
iluminava o jardim imenso da casa. parecia um conto de fadas. enquanto eu me
encostava numa pilastra para descansar, minha taça se esvaziava aos poucos.
quando estava por acabar, fui surpreendida por andré. trazia duas taças.
– para mim? perguntei.
– sim. estou
te observando ai sozinha, vi seu champanhe acabar e ...estou aqui. rimos os
dois. começamos a lembrar de quando estudávamos juntos na velha escolinha, ele
lembrou que desenhava nossos nomes no quadro negro.
– ah andré,
como nos divertíamos, não é mesmo?
– e agora,
você não se diverte? me perguntou com um sorriso nos lábios.
– sim,
bastante, mas não daquela maneira. não tínhamos medo de nada, nem de ninguém.
– eu
continuo não tendo medo de nada, me disse ele.
– duvido,
provoquei.
– é sim, vou
provar pra você.
– não, deixa
de ser bobo. eu acredito, disse eu já me sentindo embriagada.
– ainda
provo pra você e riu mais um pouco comigo.
ficamos
assim nos encarando e dado risadas bobas até que uma tia dele nos interrompeu
pedindo para ele dar atenção aos outros convidados que já estavam sentindo sua
falta. tenho certeza que ela se referia a montanha de mulheres enamoradas pelo
anfitrião.
– vai lá,
herói, destemido. vá salvar sua tia e as donzelas desamparadas.
andré fez
uma careta.
– vou sim
minha doce senhora, mas me aguarde, disse ele brincando.
nos
separamos ali naquela noite. ainda pude ver as tais donzelas desamparadas se
derretendo na simples presença de andré. fui embora ainda cedo. no outro dia pela
manhã batia a minha porta o motorista de andré.
– seu andré
pediu para levar a senhora até o local onde ele está. e pediu pra senhora usar
isso.
me entregou
uma venda para colocar nos olhos.
– eu não vou
usar isso, protestei.
– seu andré
disse que se a senhora não colocar a venda não é pra levar a senhora.
me resignei
e coloquei a tal venda. no começo ainda tentei decorar o caminho mas logo
desisti. paramos num terreno firme. comecei a andar desajeita e o motorista foi me guiando até eu
ouvir a voz de andré.
– bem-vinda.
me dê sua mão.
estiquei os
braços e ele me segurou. me levou adiante por um caminho de madeira. paramos e
ele finalmente tirou minha venda. estávamos na marina. em frente ao barco da
família dele.
– hoje vou
lhe mostrar que não tenho medo de nada, riu andré e me puxou para dentro do
barco.
vestia uma blusa
branca, imitava a pose de comandante, com direito a chapéu e tudo. eu estava
com um vestido que voava ao vento. ele colocou velocidade no barco e fomos
assim para longe da civilização. estávamos bem longe da terra e do barulho
dela. ao nosso redor um céu azul ensolarado, pássaros e as ondas que batiam no
casco sem muito alarde. no balde de gelo champanhe.
– eu sei que
você gosta, comentou ele me servido uma taça.
ficamos lá o
dia inteiro. andré levou doces, frutas, me serviu um almoço que ele mesmo
preparou. a mesa balançava com o mar e os copos também. mas estava tudo tão perfeito
que nada atrapalhou. andré me disse que pularia dali em meio a tubarões. eu dei
um gritinho de pânico. ele começou a rir e me garantiu que não tinha medo. eu
disse a ele que já acreditava que ele não tinha medo de nada. não adiantou,
andré tirou a roupa e pulou na água. disse que a água estava refrescante. eu
não pude deixar de olhar para os braços fortes dele. a água deixava seu rosto
ainda mais delicado, os cabelos molhados mal penteados deixaram andre mais sexy
que nunca. eu não mergulhei, fiquei apenas sorrindo e meio sem graça. a noite
chegou e ainda estávamos por lá. as estrelas foram tomando conta do céu, uma a
uma brilhando cada vez mais forte. fiquei com frio, andre me levou um casaco e
pela primeira vez me abraçou.
– eu não
quis provar que não tinha medo de nada ao pular na água.
– não?
– não. agora
é que eu vou te mostrar...e me deu um beijo na boca.
eu fiquei
sem ar, sem resposta, sem ação. me deixei levar por aquele beijo cheio de
paixão e desejo. a lua novamente veio espiar nós dois. e nos beijávamos no
balanço do barco.
– roubar um
beijo seu, essa é a maior das coragens, me disse ele sussurrando ao meu ouvido.
– você já
tinha tudo planejado! comentei com uma falsa indignação. ele riu e disse que
sim e acrescentou:
– desde o
primeiro momento que te vi eu quis um beijo seu.
eu me
derreti nos braços dele. e aqueles olhos tristes ainda tinham tanto para me
dizer. deixei ele me levar nos braços até a beirada do barco, um vento soprava
nossos cabelos. ele me abraçou e continuamos a nos beijar. os beijos foram
descendo meu pescoço, meus ombros. estávamos ancorados e nossos corpos se
mexiam junto com o vai-e-vem das ondas. andre tirou meu vestido devagar,
olhando nos meus olhos. fiquei completamente a mercê dele. ele beijou e tocou
meu corpo inteiro. me virou de costas pra ele. eu via ao longe no horizonte as
luzes da cidade. ele se abraçava em mim com desejo. eu me contorcia de prazer. estava
completamente nua, sentia as mãos dele em toda minha pele, me arrepiava de
desejo. andré me possuiu em pé
naquela beirada do barco. com paixão. me entreguei a ele ali, sob a luz da lua
e das estrelas. ele entrou em mim como se nunca mais fosse sair. eu não queria que aquele momento acabasse
jamais. eu o queria para sempre assim. andré gemia e eu mais ainda. estavamos loucos de tesão. uma chuva inesperada começou e mesmo assim insistimos em continuar nos amando. nossos corpos desfaleceram de tanto gozar. e a chuva ficou ainda mais forte, nos obrigou a procurar abrigo. riamos juntos
na cabine do barco. ele me encarava apaixonadamente. beijou minha boca com vontade de mais. fizemos amor novamente naquela cabine. andré suava em cima de mim. eu senti cada parte do corpo dele me desejando. me entreguei novamente sem pudor, sem medo. gritava de prazer. ele puxava meus cabelos eu o mordia. esquecemos do tempo em nossa volta. a chuva piorou e o barco começou a balançar acima do que seria seguro. voltamos para o cais. andré
me levou de volta para casa e se despediu com um beijo quente. fui dormir
pensando naqueles momentos de puro prazer. ainda sentia andré dentro de mim, me
enlouquecendo. suas mãos tinham me explorado e me deixaram de perna bamba. mal consegui
pegar no sono. no outro dia nem esperava vê-lo, ele já estava com a viagem de volta a frança marcada. mas antes do almoço chegou por meio de um mensageiro o convite para jantar
novamente na mansão da fazenda. naquela noite. claro que fiquei nervosa, mas
aprontei meu melhor vestido e fui. andré me recebeu como convidada de honra. a
mesa enorme da sala de jantar era puro luxo. os empregados impecavelmente vestidos
serviam os convidados na melhor louça da mansão. o pai de andré fez as honras
da casa e nos servia um vinho da melhor safra francesa. eu não entendia sobre
vinhos, mas ele fez questão de dar uma aula a todos os convidados. a noite
transcorreu assim, leve, com boas risadas, bebida e conversas sobre o mundo e
suas aventuras. depois do jantar, enquanto todos se deliciavam com um conhaque
ou um licor, andré me chamou para conhecer as obras de arte da casa. claro que
não vimos nem um quadro, fomos direto para o quarto dele como dois
adolescentes. nos beijávamos e nos tocávamos famintos, loucos de paixão. no
quarto, fui logo tirando as roupas dele, não tínhamos muito tempo. andré estava
explodindo de tesão. eu o engoli com fome. ele se entregou a mim, e segurava
minha cabeça enquanto eu o matava de prazer. ele gozou na minha boca com um longo gemido. logo
ouvimos passos de alguém vindo pelo corredor.
– andré?
andré, seu pai está chamando, avisou a empregada.
rapidamente andré
vestiu as calças, eu arrumei o cabelo e fomos atender ao chamado do dr.
fernandes. quem estava por lá logo percebeu que nossa ausência estava
justificada. não conseguíamos esconder nosso desejo. trocávamos olhares e quase dava para sentir a
eletricidade dos nossos corpos no ar. andré foi ajudar o pai a se recolher, os
convidados ficaram ouvindo música na sala principal e andré assumiu o papel de
anfitrião da noite. fui embora sem que ele percebesse. não queria despedidas.
eu sabia que ele estava indo embora pra frança e sabe-se lá que tempo teríamos
para nós novamente. mas no outro dia lá estava ele na minha porta. aqueles
olhos tristes e aquele sorriso encantador. trazia uma rosa vermelha e uma linda
caixa de presente. dentro o mais belo par de brincos cravejados de rubis.
– minha
querida, não quero ir, quase implorava com os olhos que pareciam cheios de
lágrimas.
– mas você
tem. precisa terminar seu doutorado e tudo vai ficar mais fácil para nós, argumentei.
me beijou
como se fosse a última vez. beijou meus olhos. me entregou a rosa e a caixa e foi
embora. e durante 136 dias todos os dias eu recebi em casa uma rosa e uma pequena
joia com um rubi. até que pude ir ao encontro dele na frança. mas ai já é outra
história. a da rosa foi essa. guardei entre os livros para não esquecer jamais
daqueles olhos tristes do homem que teve medo de me roubar um beijo.
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