meu querido h. adams, recebi suas últimas notícias e confesso que
fiquei preocupada com elas. como assim “necessário refazer o negócio das hipotecas
em londres” ? está tudo bem? me
deixe mais tranquila, por favor. pelas terras de cá, tudo como esperado. andei
vendendo umas obras de arte e comprando outras. faz um bem danado dar uma
renovada na casa. dá vida nova à alma. meu querido, esta tarde recebi uma
notícia triste. você lembra da época do john e do davi? hoje recebi a notícia
de que o davi se foi. morreu depois de uma longa e dolorosa luta contra uma
doença maldita. que vá em paz. lembro como se fosse ontem a delícia que foi
namorar aqueles dois.
no primeiro dia de carnaval daquele ano eu decidi não usar máscaras
nem me embalar na folia das ruas. fiquei quieta apenas observando o cortejo
feliz que desfilava pela cidade. num canto, sozinha, sorria para os foliões que
se divertiam em fantasias e gracejos. foi quando meu olhar cruzou o de davi.
que homem charmoso. alto, moreno, com uns olhinhos puxados que quase fechavam
ao sorrir. ele me mandou seu melhor sorriso e eu retribui. com um copo de
bebida na mão fez um brinde no ar e seguiu seu caminho atrás da marchinha que
animava a festa. a rua estava lotada. era gente por todos os lados. por trás de
mim veio ele, o john, tropeçando e sujando minha roupa. derramou o copo de
bebida todo em cima de mim. fez uma cara de espanto, pediu tantas desculpas que
não consegui me aborrecer com ele. se apresentou timidamente. era loiro, de uns
olhos claros profundos e boca larga. lindo.
conversamos um pouco entre gritos já que a música estava alta. ficamos
ali trocando sorrisos e fui logo para casa trocar o vestido sujo. fiquei por
lá, estava cansada e sem espírito carnavalesco. quando já me preparava para
deitar ouvi alguém batendo na janela.
– quem está ai? perguntei já com um leve medo na barriga. em noite de
folia sabe-se lá o estado alcoólico dos foliões, não é mesmo?
– sou eu, o john.
nem acreditei que aquele maluquinho tinha me seguido até em casa. abri
a janela sem me preocupar com a pouca roupa que usava.
– seu maluco, o que você faz aqui? como veio parar aqui?
– eu te segui. quer um gole? me perguntou ele levantando um copo na
minha direção com a cara mais safada do mundo.
– não john, está tarde, vou dormir.
– não, por favor, bebe um golinho só. é conhaque.
achei que um gole de conhaque não faria mal algum antes de deitar.
aceitei a oferta. desceu rasgando minha garganta. e eu ali, seminua na janela
começando a ficar com frio.
– john ou você vai embora ou entra pela porta da frente. está ficando
frio e eu realmente estou com sono.
– abre a porta pra mim?
fiz que sim com um sinal de cabeça. no caminho consegui apanhar um
casaco velho que estava jogado por cima da cama. abri a porta pra ele. john
entrou decidido e foi diretamente a mim. me segurou pela cintura e me deu um
beijo que me tirou o fôlego. tentei me
desvencilhar dele, mas ele parecia um polvo com mil tentáculos.
– ei, para com isso, eu realmente quero dormir e você já passou da
hora, falei sem convencer muito.
john não foi embora. mais uma vez me beijou. eu cedi. o corpo dele me
envolvia, me agarrava inteira, me perdi nos braços dele. ficamos na sala nos
beijando e nos tocando como dois adolescentes recém descobrindo o amor. eu
estava perdendo o ar e ele empolgado me lambia os lábios, a cara, o pescoço.
pedi, quase sem força, para ele parar com aquilo. e ele parou.
– vou parar. se eu continuar vou acabar estuprando você, me disse ele
sorrindo. vou embora. amanhã nos falamos. e partiu.
fiquei sozinha no meio da sala sem acreditar no que tinha acontecido.
eu adorei. fui dormir pensando nele. do nada meus pensamentos me levaram até o
sorriso de davi. adormeci e sonhei com os dois.
no outro dia cedo fui ao mercado para reabastecer a dispensa de vinhos
e frutas. quem estava lá parado, de óculos escuros e bastante alinhado? davi.
também comprava frutas.
– bom dia madame. me disse ele amavelmente.
– bom dia. sorri.
– me permite? e foi logo me ajudando a passar as mercadorias no caixa.
fez questão de pagar a minha conta e a dele. insistiu a ponto de eu aceitar para
não deixá-lo sem graça.
conversamos algumas amenidades e ele se despediu avisando que iria
trabalhar aquele dia até mais tarde, mesmo tendo uma pontinha de ressaca da noite
anterior. rimos da situação, e ele então me convidou para ir encontrá-lo para
beber o vinho que “tínhamos” comprado. aceitei.
– hoje, oito horas.
– estarei lá, respondi.
e sim, fui encontrar davi na casa dele. não estávamos sozinhos ele
morava com a mãe e a irmã mais jovem, julia. fui muito bem recebida. a mãe está
doente e se recolheu depois de me dar boa noite. falou com muita doçura com o
filho e foi dormir. a irmã mais nova nos fez companhia e o jantar estava
bastante gostoso. ela me contou que fez a torta de frango mas que a
especialidade dela era mesmo a sobremesa. tinha razão. serviu uma torta de
morango de tirar o chapéu. eu e davi não
parávamos de sorrir e trocar olhares cúmplices e comprometedores. tentei ajudar
julia mas ela fez questão de retirar a louça e ficar na cozinha, nos dando
tempo para uma conversa a sós na sala de estar.
– jantar maravilhoso, elogiei.
– maravilhosa é você.
– davi para com isso, sua irmã e sua mãe são uns amores, podem não
gostar dessa ousadia, repreendi ele.
– que ousadia? você ainda não viu nada. vem cá.
fui. ele me beijou demoradamente. senti sua respiração mudar enquanto
me beijava suavemente. me olhou nos olhos e disse quase em sussurro:
- você é linda. te quero para mim.
eu retribui o beijo. neste momento julia entrou com a bandeja do café,
deu um gritinho espevitado e já dava meia volta quando paramos de nos beijar e
rimos com ela. ficamos os três tomando café e conversando sobre a vida. estava
ficando tarde. davi insistiu que ouvíssemos julia ao piano. eu já estava meio
alta de tanto vinho, mas fiquei. foi deslumbrante. o tempo estava passando
rapidamente.
– davi, preciso ir. já está tarde.
– eu te levo.
pegou o casaco e fomos andando de mãos dadas até minha casa. estava
uma noite linda de lua cheia.
nos despedimos na porta com mais um beijo.
– vou lembrar desta noite para sempre, me disse ele.
fui dormir com a promessa de encontrá-lo no dia seguinte.
e lá estou novamente de camisola, me preparando para dormir, quando ouço a batidinha
na janela. será que davi teve a mesma ideia de john?
não. era john mesmo, em pessoa, batendo novamente.
– namorado? perguntou ele.
– te interessa? respondi.
– claro que sim. quero você pra mim. como vamos fazer?
– john a gente nem se conhece, vai embora, não me deixe confusa.
ele então pulou a janela do quarto. não se deu o trabalho de ir até a
porta da frente. e veio novamente na minha direção com aqueles olhos brilhantes
e azuis. me segurou pela cintura, me colou ao corpo dele. ele estava quente e
suado. e cheiroso. me beijou a boca. a orelha, o pescoço. e eu me derretia nos
braços dele. fomos nos agarrando até a cama. ele me jogou nela, tentei levantar
mas ele me segurou.
– hoje eu não vou embora, disse ele já em cima de mim. gemia no meu
ouvido.
eu queria aquele homem loucamente. ele me beijava, mordia, arranhava.
não esperou eu tirar a camisola, foi logo rasgando minha roupa. a calcinha ele
tirou num puxão só, e assim com fome, com violência, abriu minhas pernas e enfiou seu pau. foi intenso,
rápido e forte. eu queria mais e mais. me agarrava a ele com as unhas. ele
segurava meu rosto e me beijava, puxava meu cabelo, se contorcia dentro de mim
como um bicho. naquela noite ele dormiu comigo. eu acordei com o corpo
destruído, ainda cheio de marcas da noite anterior. ele levantou antes, tomou
um banho e me deixou uma xícara de café em cima do criado mudo. um bilhetinho
dizia que iria voltar. “com amor, john” .
mal dei um jeito nos cabelos bateu a minha porta davi. nas mãos uma
torta de morango. julia insistiu, contou ele.
– mas que rápida, como ela conseguiu fazer uma torta de ontem pra hoje?
perguntei meio sem graça.
– rápida nada. já estava pronta desde ontem. ela ficou com vergonha de
oferecer o mimo. ai eu disse que você iria gostar e enfim, aqui estou eu de
garoto de recados.
– entra davi, não fique ai na porta, por favor.
– não posso. estou atrasado. mas posso voltar mais tarde, se você não
se importar.
– claro, disse eu. eu te espero para comermos juntos esses morangos.
ele sorriu, me beijou a boca, arrumou uns fios do meu cabelo e saiu.
e eu passei o dia tentando disfarçar as marcas da noite com john.
tinha arranhões corpo, as costas acabadas.
a noite chegou. davi chegou com ela. trazia flores, rosas vermelhas.
– minhas preferidas, disse eu. enquanto eu colocava as flores no vaso
davi colocava uma música. nos abraçamos e começamos a dançar. a música era
suave, não exatamente para uma dança, mas nos deixamos embalar. ele me beijou
novamente, beijou meu pescoço, segurava minha cabeça enquanto sua língua
percorria minha boca, meu colo. davi tinha um cheiro inebriante. eu me entreguei àquelas carícias. nos
abraçamos e nos tocamos, fomos andando em direção ao sofá. ali as caricias
foram ficando mais fortes, mais ousadas. eu já estava quase nua e sentia davi
pulsando em cima de mim. ele me virou de quatro e assim me possuiu. entrou em
mim com desejo, com tesão. e eu me entreguei a ele. ainda sentia as dores de
john, mas me deleitei com as dores que davi me dava. ele me puxava pra ele, me
queria. gozou em mim gemendo alto. ficamos por ali. entregues um ao outro. davi
adormeceu no sofá. deixei ele em paz. e pra meu desespero ouvi novamente a
batidinha na janela do quarto. john!
fui correndo abrir.
– o que você está fazendo aqui? perguntei assustada.
– ué, eu avisei que vinha, me respondeu ele já entrando pela janela.
sentiu minha falta?
– john, eu preciso falar com você. eu estou confusa. conheci outro
homem, não sei o que estou sentindo. eu gosto de você e gosto dele. mas eu não
sei o que fazer. eu tentava me explicar entre frases curtas e rápidas.
– ei, calma. respira, me disse ele. você não precisa escolher nada,
decidir nada. deixa as coisas acontecerem.
– você não está entendendo. ele está aqui.
– então deixa eu conhecer, falou john já saindo do quarto em direção a sala.
– não, gritei. pulei em cima dele, mas john foi mais rápido e encontrou
davi dormindo nu no sofá.
– sua safadinha, me disse john com um sorrisinho de lado.
– para com isso. ele vai acordar. john vai embora. por favor. eu estava
em pânico e tentava sussurrar.
john ria e voltou para o quarto. me puxou para ele e beijou minha
boca.
– você é minha, dá um jeito de despachar o bonitão.
– tá bom, mas vai embora, por favor, respondi.
ele saiu pela janela mesmo. contrariado. davi acordou e foi até meu
quarto, quase flagrou john pulando a janela.
– desculpe, peguei no sono, me disse davi.
– sem problema.
– vou embora. amanhã tenho trabalho e vou ao último baile da temporada.
você me acompanha nessa festa?
– claro, respondi sem pensar.
davi se trocou, me beijou e foi embora.
no outro dia acordei cedo, com as lembranças boas da noite anterior.
“hoje tem festa”, lembrei, mas eu estava confusa e sem saber o que
fazer. davi ou john? eu estava apaixonada pelos dois...
a noite chegou e davi me pegou para irmos ao baile. usava uma linda
máscara negra , combinando com a minha. o salão estava lotado. a música
embalava os casais. começamos a beber champanhe e fomos para o meio do salão de baile. a
certa altura eu já estava meio zonza, davi me abraçou pela cintura e por trás
de mim ganhei um abraço, senti uma mão que também me segurava. olhei para trás
e vi, john, também mascarado. eu fiquei ali, entre os dois.
davi beijou minha boca. john beijou minha nuca. ficamos os três
abraçados indiferentes ao resto dos convidados. john me virou em direção a ele e beijou minha boca. davi continuou me
beijando. revezei os beijos dos dois. eles pareciam não se importar um com o
outro. os dois me queriam para eles. saímos do salão. eu estava suando. nós
três riamos enquanto andávamos pelos corredores. encontramos uma sala mais
reservada. entramos.
– shhhh, silêncio, me diziam. e eu obedeci. mas eles não paravam de me
beijar, de me tocar.
era davi que comandava nossos passos. me segurou pela mão e me levou
em direção a janela enquanto john esperava para ser convidado. davi apenas
olhou para ele como autorizando pegar minha outra mão. próximo à uma estante ao lado da janela davi tirou a máscara, ficou na minha frente e
tirou as alças do meu vestido. fiquei com os seios à mostra. john me olhava.
começou a me tocar. davi foi para trás de mim e beijou meu pescoço, enquanto
john mamava nos meus peitos me matando de prazer. os dois passaram a dividir
meu corpo. me beijaram, me lamberam, me sentiram. me encostaram na parede, de
pernas abertas e se enfiavam em mim
revezando os prazeres, ampliando meu desejo. eu senti cada uma daquelas quatro
mãos, dois paus, duas línguas, quatro pernas. nunca antes havia sentido tanto
tesão. às vezes um parava para ficar olhando ai voltava a me dividir. nos
beijamos os três, três bocas que se procuravam. eu ajoelhei e lambi e chupei os
dois. senti um de cada vez na minha boca. os dois me deram o gozo para beber. eles não se tocaram, não naquela
noite. e eu gozei farta de tanto tesão.
eles me ajudaram a vestir novamente o
vestido. colocamos nossas máscaras e voltamos para o salão de baile. não
tiramos o sorriso do rosto, nem nos desgrudamos por um bom tempo depois disso.
davi deixou a mãe aos cuidados da irmã julia e mudou para minha casa. john foi morar conosco uma semana
depois. dormíamos os três na cama que ficou apertada para tantas aventuras e passamos a ser
conhecidos oficialmente como o estranho casal de três pessoas. tenho tantas
lembranças...aos poucos vou relembrando, sim, meu querido? agora vou apagar
essas luzes, a noite já vai alta e eu preciso estar bem amanhã.
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