quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

o estranho casal de três pessoas

 meu querido h. adams, recebi suas últimas notícias e confesso que fiquei  preocupada com elas. como assim “necessário refazer o negócio das hipotecas em londres” ?  está tudo bem? me deixe mais tranquila, por favor. pelas terras de cá, tudo como esperado. andei vendendo umas obras de arte e comprando outras. faz um bem danado dar uma renovada na casa. dá vida nova à alma. meu querido, esta tarde recebi uma notícia triste. você lembra da época do john e do davi? hoje recebi a notícia de que o davi se foi. morreu depois de uma longa e dolorosa luta contra uma doença maldita. que vá em paz. lembro como se fosse ontem a delícia que foi namorar aqueles dois.
no primeiro dia de carnaval daquele ano eu decidi não usar máscaras nem me embalar na folia das ruas. fiquei quieta apenas observando o cortejo feliz que desfilava pela cidade. num canto, sozinha, sorria para os foliões que se divertiam em fantasias e gracejos. foi quando meu olhar cruzou o de davi. que homem charmoso. alto, moreno, com uns olhinhos puxados que quase fechavam ao sorrir. ele me mandou seu melhor sorriso e eu retribui. com um copo de bebida na mão fez um brinde no ar e seguiu seu caminho atrás da marchinha que animava a festa. a rua estava lotada. era gente por todos os lados. por trás de mim veio ele, o john, tropeçando e sujando minha roupa. derramou o copo de bebida todo em cima de mim. fez uma cara de espanto, pediu tantas desculpas que não consegui me aborrecer com ele. se apresentou timidamente. era loiro, de uns olhos claros profundos e boca larga. lindo.  conversamos um pouco entre gritos já que a música estava alta. ficamos ali trocando sorrisos e fui logo para casa trocar o vestido sujo. fiquei por lá, estava cansada e sem espírito carnavalesco. quando já me preparava para deitar ouvi alguém batendo na janela.
– quem está ai? perguntei já com um leve medo na barriga. em noite de folia sabe-se lá o estado alcoólico dos foliões, não é mesmo?
– sou eu, o john.
nem acreditei que aquele maluquinho tinha me seguido até em casa. abri a janela sem me preocupar com a pouca roupa que usava.
– seu maluco, o que você faz aqui? como veio parar aqui?
– eu te segui. quer um gole? me perguntou ele levantando um copo na minha direção com a cara mais safada do mundo.
– não john, está tarde, vou dormir.
– não, por favor, bebe um golinho só. é conhaque.
achei que um gole de conhaque não faria mal algum antes de deitar. aceitei a oferta. desceu rasgando minha garganta. e eu ali, seminua na janela começando a ficar com frio.
– john ou você vai embora ou entra pela porta da frente. está ficando frio e eu realmente estou com sono.
– abre a porta pra mim?
fiz que sim com um sinal de cabeça. no caminho consegui apanhar um casaco velho que estava jogado por cima da cama. abri a porta pra ele. john entrou decidido e foi diretamente a mim. me segurou pela cintura e me deu um beijo que me tirou o fôlego.  tentei me desvencilhar dele, mas ele parecia um polvo com mil tentáculos.
– ei, para com isso, eu realmente quero dormir e você já passou da hora, falei sem convencer muito.
john não foi embora. mais uma vez me beijou. eu cedi. o corpo dele me envolvia, me agarrava inteira, me perdi nos braços dele. ficamos na sala nos beijando e nos tocando como dois adolescentes recém descobrindo o amor. eu estava perdendo o ar e ele empolgado me lambia os lábios, a cara, o pescoço.
pedi, quase sem força, para ele parar com aquilo. e ele parou.
– vou parar. se eu continuar vou acabar estuprando você, me disse ele sorrindo. vou embora. amanhã nos falamos. e partiu.
fiquei sozinha no meio da sala sem acreditar no que tinha acontecido. eu adorei. fui dormir pensando nele. do nada meus pensamentos me levaram até o sorriso de davi. adormeci e sonhei com os dois.
no outro dia cedo fui ao mercado para reabastecer a dispensa de vinhos e frutas. quem estava lá parado, de óculos escuros e bastante alinhado? davi.
também comprava frutas.
– bom dia madame. me disse ele amavelmente.
– bom dia. sorri.
– me permite? e foi logo me ajudando a passar as mercadorias no caixa. fez questão de pagar a minha conta e a dele. insistiu a ponto de eu aceitar para não deixá-lo sem graça.
conversamos algumas amenidades e ele se despediu avisando que iria trabalhar aquele dia até mais tarde, mesmo tendo uma pontinha de ressaca da noite anterior. rimos da situação, e ele então me convidou para ir encontrá-lo para beber o vinho que “tínhamos” comprado. aceitei.
– hoje, oito horas.
– estarei lá, respondi.
e sim, fui encontrar davi na casa dele. não estávamos sozinhos ele morava com a mãe e a irmã mais jovem, julia. fui muito bem recebida. a mãe está doente e se recolheu depois de me dar boa noite. falou com muita doçura com o filho e foi dormir. a irmã mais nova nos fez companhia e o jantar estava bastante gostoso. ela me contou que fez a torta de frango mas que a especialidade dela era mesmo a sobremesa. tinha razão. serviu uma torta de morango de tirar o chapéu. eu e  davi não parávamos de sorrir e trocar olhares cúmplices e comprometedores. tentei ajudar julia mas ela fez questão de retirar a louça e ficar na cozinha, nos dando tempo para uma conversa a sós na sala de estar.
– jantar maravilhoso, elogiei.
– maravilhosa é você.
– davi para com isso, sua irmã e sua mãe são uns amores, podem não gostar dessa ousadia, repreendi ele.
– que ousadia? você ainda não viu nada. vem cá.
fui. ele me beijou demoradamente. senti sua respiração mudar enquanto me beijava suavemente. me olhou nos olhos e disse quase em sussurro:
- você é linda. te quero para mim.
eu retribui o beijo. neste momento julia entrou com a bandeja do café, deu um gritinho espevitado e já dava meia volta quando paramos de nos beijar e rimos com ela. ficamos os três tomando café e conversando sobre a vida. estava ficando tarde. davi insistiu que ouvíssemos julia ao piano. eu já estava meio alta de tanto vinho, mas fiquei. foi deslumbrante. o tempo estava passando rapidamente.
– davi, preciso ir. já está tarde.
– eu te levo.
pegou o casaco e fomos andando de mãos dadas até minha casa. estava uma noite linda de lua cheia.
nos despedimos na porta com mais um beijo.
– vou lembrar desta noite para sempre, me disse ele.
fui dormir com a promessa de encontrá-lo no dia seguinte.
e lá estou novamente de camisola, me preparando para dormir, quando ouço a batidinha na janela. será que davi teve a mesma ideia de john?
não. era john mesmo, em pessoa, batendo novamente.
– namorado? perguntou ele.
– te interessa? respondi.
– claro que sim. quero você pra mim. como vamos fazer?
– john a gente nem se conhece, vai embora, não me deixe confusa.
ele então pulou a janela do quarto. não se deu o trabalho de ir até a porta da frente. e veio novamente na minha direção com aqueles olhos brilhantes e azuis. me segurou pela cintura, me colou ao corpo dele. ele estava quente e suado. e cheiroso. me beijou a boca. a orelha, o pescoço. e eu me derretia nos braços dele. fomos nos agarrando até a cama. ele me jogou nela, tentei levantar mas ele me segurou.
– hoje eu não vou embora, disse ele já em cima de mim. gemia no meu ouvido.
eu queria aquele homem loucamente. ele me beijava, mordia, arranhava. não esperou eu tirar a camisola, foi logo rasgando minha roupa. a calcinha ele tirou num puxão só, e assim com fome, com violência, abriu minhas pernas e enfiou seu pau. foi intenso, rápido e forte. eu queria mais e mais. me agarrava a ele com as unhas. ele segurava meu rosto e me beijava, puxava meu cabelo, se contorcia dentro de mim como um bicho. naquela noite ele dormiu comigo. eu acordei com o corpo destruído, ainda cheio de marcas da noite anterior. ele levantou antes, tomou um banho e me deixou uma xícara de café em cima do criado mudo. um bilhetinho dizia que iria voltar.  “com amor, john” .
mal dei um jeito nos cabelos bateu a minha porta davi. nas mãos uma torta de morango. julia insistiu, contou ele.
– mas que rápida, como ela conseguiu fazer uma torta de ontem pra hoje? perguntei meio sem graça.
– rápida nada. já estava pronta desde ontem. ela ficou com vergonha de oferecer o mimo. ai eu disse que você iria gostar e enfim, aqui estou eu de garoto de recados.
– entra davi, não fique ai na porta, por favor.
– não posso. estou atrasado. mas posso voltar mais tarde, se você não se importar.
– claro, disse eu. eu te espero para comermos juntos esses morangos.
ele sorriu, me beijou a boca, arrumou uns fios do meu cabelo e saiu.
e eu passei o dia tentando disfarçar as marcas da noite com john. tinha arranhões corpo, as costas acabadas. 
a noite chegou. davi chegou com ela. trazia flores, rosas vermelhas.
– minhas preferidas, disse eu. enquanto eu colocava as flores no vaso davi colocava uma música. nos abraçamos e começamos a dançar. a música era suave, não exatamente para uma dança, mas nos deixamos embalar. ele me beijou novamente, beijou meu pescoço, segurava minha cabeça enquanto sua língua percorria minha boca, meu colo. davi tinha um cheiro inebriante.  eu me entreguei àquelas carícias. nos abraçamos e nos tocamos, fomos andando em direção ao sofá. ali as caricias foram ficando mais fortes, mais ousadas. eu já estava quase nua e sentia davi pulsando em cima de mim. ele me virou de quatro e assim me possuiu. entrou em mim com desejo, com tesão. e eu me entreguei a ele. ainda sentia as dores de john, mas me deleitei com as dores que davi me dava. ele me puxava pra ele, me queria. gozou em mim gemendo alto. ficamos por ali. entregues um ao outro. davi adormeceu no sofá. deixei ele em paz. e pra meu desespero ouvi novamente a batidinha na janela do quarto. john!
fui correndo abrir.
– o que você está fazendo aqui? perguntei assustada.
– ué, eu avisei que vinha, me respondeu ele já entrando pela janela. sentiu minha falta?
– john, eu preciso falar com você. eu estou confusa. conheci outro homem, não sei o que estou sentindo. eu gosto de você e gosto dele. mas eu não sei o que fazer. eu tentava me explicar entre frases curtas e rápidas.
– ei, calma. respira, me disse ele. você não precisa escolher nada, decidir nada. deixa as coisas acontecerem.
– você não está entendendo. ele está aqui.
– então deixa eu conhecer, falou john já saindo do quarto em direção a sala.
– não, gritei. pulei em cima dele, mas john foi mais rápido e encontrou davi dormindo nu no sofá.
– sua safadinha, me disse john com um sorrisinho de lado.
– para com isso. ele vai acordar. john vai embora. por favor. eu estava em pânico e tentava sussurrar.
john ria e voltou para o quarto. me puxou para ele e beijou minha boca.
– você é minha, dá um jeito de despachar o bonitão.
– tá bom, mas vai embora, por favor, respondi.
ele saiu pela janela mesmo. contrariado. davi acordou e foi até meu quarto, quase flagrou john pulando a janela.
– desculpe, peguei no sono, me disse davi.
– sem problema.
– vou embora. amanhã tenho trabalho e vou ao último baile da temporada. você me acompanha  nessa festa?
– claro, respondi sem pensar.
davi se trocou, me beijou e foi embora.
no outro dia acordei cedo, com as lembranças boas da noite anterior.
“hoje tem festa”, lembrei, mas eu estava confusa e sem saber o que fazer. davi ou john? eu estava apaixonada pelos dois...
a noite chegou e davi me pegou para irmos ao baile. usava uma linda máscara negra , combinando com a minha. o salão estava lotado. a música embalava os casais. começamos a beber champanhe e fomos para o meio do salão de baile. a certa altura eu já estava meio zonza, davi me abraçou pela cintura e por trás de mim ganhei um abraço, senti uma mão que também me segurava. olhei para trás e vi, john, também mascarado. eu fiquei ali, entre os dois.
davi beijou minha boca. john beijou minha nuca. ficamos os três abraçados indiferentes ao resto dos convidados. john me virou em direção a ele e beijou minha boca. davi continuou me beijando. revezei os beijos dos dois. eles pareciam não se importar um com o outro. os dois me queriam para eles. saímos do salão. eu estava suando. nós três riamos enquanto andávamos pelos corredores. encontramos uma sala mais reservada. entramos.
– shhhh, silêncio, me diziam. e eu obedeci. mas eles não paravam de me beijar, de me tocar. 
era davi que comandava nossos passos. me segurou pela mão e me levou em direção a janela enquanto john esperava para ser convidado. davi apenas olhou para ele como autorizando pegar minha outra mão. próximo à uma estante ao lado da janela davi tirou a máscara, ficou na minha frente e tirou as alças do meu vestido. fiquei com os seios à mostra. john me olhava. começou a me tocar. davi foi para trás de mim e beijou meu pescoço, enquanto john mamava nos meus peitos me matando de prazer. os dois passaram a dividir meu corpo. me beijaram, me lamberam, me sentiram. me encostaram na parede, de pernas abertas e  se enfiavam em mim revezando os prazeres, ampliando meu desejo. eu senti cada uma daquelas quatro mãos, dois paus, duas línguas, quatro pernas. nunca antes havia sentido tanto tesão. às vezes um parava para ficar olhando ai voltava a me dividir. nos beijamos os três, três bocas que se procuravam. eu ajoelhei e lambi e chupei os dois. senti um de cada vez na minha boca. os dois me deram o gozo para beber. eles não se tocaram, não naquela noite. e eu gozei farta de tanto tesão. 
eles me ajudaram a vestir novamente o vestido. colocamos nossas máscaras e voltamos para o salão de baile. não tiramos o sorriso do rosto, nem nos desgrudamos por um bom tempo depois disso. davi deixou a mãe aos cuidados da irmã julia e mudou para minha casa. john foi morar conosco uma semana depois. dormíamos os três na cama que ficou apertada para tantas aventuras e passamos a ser conhecidos oficialmente como o estranho casal de três pessoas. tenho tantas lembranças...aos poucos vou relembrando, sim, meu querido? agora vou apagar essas luzes, a noite já vai alta e eu preciso estar bem amanhã.

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